segunda-feira, 10 de março de 2008

Desalento

Sônia era sempre doce. Sua voz tão sutil e aguda chegava a dar pena. No entanto, ela era alta e parecia mais velha do que realmente era. Suas roupas mais largas que seu corpo, este sempre coberto, sempre reservado, escondido.

Ela não tinha tempo para nada, seus almoços, sempre às três da tarde, denunciavam a escravidão por uma vida pouco maravilhosa. Sônia cambaleava entre momentos de risos e piadas e os comentários mudos, acompanhados de feições pouco entusiasmadas em dias de sufoco. Nos últimos tempos, suas olheiras cresciam, seu rosto parecia envelhecer um pouco mais. Não havia sorvete de baunilha com chocolate que a animasse ou reviravoltas no mundo que lhe tirassem do sério.
O que se tem aqui é uma jovem, deixando de ser e esquecendo o que a faz ou fazia mudar de rumo. Sabe-se só o que está em volta de Sônia, mas não se sabe o que há dentro. No fundo, no fundo, pode ser só impressão de terceiros, sua alegria pode mesmo estar camuflada e manifestar-se diferente! Suas olheiras podem ser de excitação por não querer dormir e perder parte da vida, sua voz doce pode ser sinônimo de euforia ou doçura mesmo...
De fato, não há fatos para serem contados sobre Sônia. Ela é para este aqui, apenas um corpo cansado.
Pode ser que Sônia se desorganize um dia, largue pelas ruas a montanha de papel que vive a carregar, rasgue sua roupa e comece a andar e cantar mais alto e com mais força do que ela supunha ter. Qualquer dia, este fato vai se suceder.

2 comentários:

cicero disse...

porreta, fêu!

Daniel Farias disse...

juro q li depois q postei esse daí de cima. poderia ser até a vida do marido de sônia, se essa tivesse um. bem macabéico, gostei.