segunda-feira, 7 de abril de 2008

Três

Viviam nos mesmos bares, no mesmo lado da praia, no mesmo esconde-mostra-sofre-goza.
João conheceu Tadeu e se apaixonaram. Foram morar juntos pelas conveniencias do bolso, do corpo e da companhia. João trabalhava, trazia sustento para a casa e reclamava de barriga cheia. Tadeu ficava em casa, arrumava tudo, cozinhava e só trabalhava no final de semana, nas festas que organizava para João se divertir e que não lhe rendiam muitos lucros. Ficava impaciente quando tinha fome. Tinha pouco dinheiro mas muita arte. Ao contrário de João que tinha até uma quantia razoavel de dinheiro, mas muito pouco bom gosto. Eram homens bons. Isso eram. Corações desses moles... desses que aprenderam a lidar com os olhares atravessados. E eram tão bons nisso que quase nunca tinham problemas. Mas como tudo que é bom dura pouco se não é reinventado... acabou. Decidiram, então, não por serem covardes, mas porque ainda restava os ecos dos corpos, que não desaprendem assim fácil os carinhos do amor, continuar dividindo casa... até Tadeu arrumar um apartamento e João uma diarista e, é claro, se sentirem prontos para ir pro mundo outra vez. E estava indo tudo muito bem, sem tantos beijos e carinhos, só alguns dejavùs em noite chuvosa de filme, pipoca e edredon, até que João conheceu Mateus e se apaixonaram. Foram morar juntos pelas conveniencias do bolso, do corpo e da companhia. Sem contar que Mateus morava longe, em um quarto e sala desses bem vagabundos e a casa de João era no centro, pertinho do trabalho. Mas havia um detalhe não tão conviniente... Tadeu. Tadeu era quase dono da cama... dormiu ao lado de João por longos meses... tinha acabado de se recuperar da insonia... Não aceitou ir pro escritório, dormir no colchão inflavel que compraram para ir acampar numa dessas férias quaisquer. Mateus decidiu aceitar que João dormisse com Tadeu, então, até que esse achasse uma casa nova... mas que ficassem sempre de porta aberta. O que incomodava muito João era Mateus ter escolhido o sofá... porque sempre que saia para o trabalho o sofá estava ocupado com um corpo preguiçoso e cheio de pelos que tinham que ser disfarçados quando recebiam visita. O fato de dormir de porta aberta amenizava o calor e as disputas. Não faziam tudo juntos. Só o que todo mundo faz a três. Moraram assim por incontaveis dias... até que João acordou de noite e sentiu falta de Mateus. Nem olhou para o lado, levantou e foi rumo a sala. Na janela Tadeu e Mateus conversavam e fumavam um cigarro fedorento. Riam. João ficou com raiva e voltou a dormir encolhido. Nesse dia Tadeu cedeu a cama para Mateus que reclamava da dor nas costas. Mateus abraçou João que fingiu que ainda dormia De manhã cedo olhou para o sofá e ficou até satisfeito em ver um corpo com menos pelos e mais gracioso deitado no sofá. Fez sanduiche para os três. Era sábado. Colocou uma música alta e esquentou o café. Quando comiam João olhou pra baixo e determinou:
- Quero que saiam daqui assim que acabar o café.
Ficou um silêncio constrangedor no ar mas logo todos riram. Na mesma semana Joao comprou um cachorro. E ficou assim:
João amava Tadeu
Mas agora ama Mateus
que sente ciumes de Tadeu
Que ama Mateus e Joao
0Que sente ciumes de Tadeu e Mateus
Que amava Joao
Mas que agora não sabe quem ama
Mas João que é esperto
E gosta de ser amado
Sentiu que podia perder os dois, um pro outro
Comprou, então, um cachorro
Porque em quatro ninguem sobra
E todos no final amavam só o cachorro que não sabia o que era ciumes muito menos amor.

E por fim... Tadeu e Mateus se mudaram e foram morar no apartamento ao lado... Assim que chegou Marcos. Mas até hoje dividem o cachorro.

Um comentário:

Anônimo disse...

amor...